quinta-feira, 14 de junho de 2012

Winston e Júlia

 
-Escuta. Quantos mais homens tivestes, mais te quero. Compreendes?
-Perfeitamente.
-Odeio a pureza, odeio a virtude. Não quero que exista virtude alguma, em parte nenhuma. Quero que todos sejam corruptos até ossos.
-Então eu sirvo, querido. Sou corrupta até os ossos.
-Gostas de fazer isto? Não me refiro a mim, somente. Gostas da coisa em si?
-Adoro!

Acima de tudo, era o que ele desejava ouvir. Não somente o amor de uma pessoa, mas o instinto animal, o desejo simples, indiscriminado; era a força que faria a derrocada do Partido. Apertou-a contra o chão, esmagando campânulas. Desta vez não houve empecilhos. Dentro de algum instantes, o ofegar do peito de ambos voltou ao normal, e com um agradável torpor, permaneceram imóveis. O sol parecia ter esquentado mais. Ambos tinham sono. Ele puxou o macacão abandonado e cobriu-a um pouco. Quase imediatamente caíram no sono e dormiram cerca de meia hora.

George Orwell in 1984 



*Um dos meus livros favoritos, Orwell é incrivel. Dizem que a relação de Winson e Júlia era puramente carnal e nada romântica. Mas eu tenho certas dúvidas em relacao a isso, afinal, o que senti diferentes coisas em vários momentos entre os dois ao ler 1984. E mesmo que fosse. Qual o problema? Afinal, numa sociedade onde tudo se controla, algo que seja irracional, impensável, incontrolável e absolutamente humano, tem que ter destaque. E pra mim, esse casal o tem.

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