sábado, 16 de novembro de 2013

Não tenho a menor pretensão de ser uma pessoa excêntrica. Mas tenho plena consciência de que, apesar de ter uma vida normal, nunca serei uma pessoa comum. O que me faz constatar isto é o meu olhar e a minha mente aberta. Não tenho medo de me expor, não tenho a menor curiosidade em saber o que pensam sobre as minhas atitudes. Recebo críticas e elogios com a mesma naturalidade. Digo não e sim sem a menor culpa. Minha maior ambição é espiritual. Minha melhor companhia sou eu: me presenteio com momentos maravilhosos, com coisas que realmente me dão alegria. Eu preservo amigos reais, virtuais, mas verdadeiros. Eu procuro me surpreender comigo mesma o tempo todo: mudando de ideia, de escolha, de parceria, de tema, de capítulos, de sujeitos. Quando me relaciono, fico absolutamente inteira no lugar que escolhi. Eu vivo a entrega. Às vezes faço uma má escolha, por outras vivo histórias absurdamente bonitas. E não aceito ser posta em segundo plano porque eu me coloco em primeiro: faço por merecer. Pode parecer arrogante me posicionar desta forma, mas eu prezo pela sinceridade. Sou tão intensa que me desgasto emocionalmente com facilidade. Por isso, hoje, quando começo a sentir raiva, me dá preguiça. Por escrever, habito no imaginário erótico de homens e mulheres. Mas eu não sou sedutora nem presa, sou predadora.





Marla de Queiroz

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De todos os abraços o que eu nunca esqueci

"Você foi o caso mais antigo e o amor mais amigo que me apareceu… Das lembranças que eu trago na vida, você é a saudade que eu gosto de ter, só assim sinto você bem perto de mim outra vez…"
Roberto Carlos


Dizem que jogar xadrez forma um bom estrategista na vida. Bom, eu tento jogar xadrez desde os meus dez anos. Levei muito xeque-mate por aí, uns rápidos e outros mais demorados. Continuo levando xeque-mate na vida. Não há teoria ou jogo de xadrez que me salve; a minha torre vive caindo

domingo, 10 de novembro de 2013

"Sou uma pessoa boa, eu sei disso, mas nem sempre me sinto bem nessa roupagem. É como se, na verdade, eu tivesse fracassado como vilão."
— Gabito Nunes

Ela vai voltar

Ela vai voltar, rapaz, e vai voltar mais bonita. É incrível como elas sempre voltam mais bonitas! Eu já vi essa história com outros amigos, você não é o único que “bebeu demais”, “fez sem querer”, “acordou arrependido, mas não dormiu na vontade” e “não é nada disso que você está pensando”. Ela não é a única que ligou a noite inteira sem ninguém atender. A juventude é uma perdição, eu sei, meu avô me contava que desde os tempos dele é assim quando as moças colocavam aqueles vestidos até o meio das canelas, sapatinhos discretos, tiara na cabeça, cabelos bem estruturados e iam para a praça mais próximo na tarde de domingo. “Flertes”, dizia ele. Com um olhar ou uma jogada de cabelo lá estão elas! Mulheres e mistérios é um caso tão, mas tão antigo, que as explicações se perderam em um século distante demais para ser comentado. Uma complexidade além dos tempos.

 Ela vai fazer uma incursão pelo mundo, conhecerá desde belas ilhas da Grécia até aquela vila desconhecida de um país mais desconhecido ainda. Você saberá pelos amigos uma coisa ou outra, acompanhará nas mil redes sociais algumas fotos que ela deixará aparecerem, porque ela é discreta, vale o registro. Ela vai ter cursado uma faculdade, largado outra, feito milhares de amigos novos e continuar com aquele jeito despreocupada de andar. Se ela namorou esse tempo todo? Você jamais saberá. 

Eles dizem por aí que quando mulher se apaixona mesmo, mas pra valer, ela guarda para si o segredo do resto do mundo. Ela deixa escapar o que quer, mas as declarações de verdade ninguém vê. Estão certas, então, as mulheres: sabem que o amor bonito é o que suporta o silêncio do olhar. Homem não entende isso, ou entende tarde demais, ou não é paciente, ou esquece. Então, boa sorte, talvez ela tenha namorado dez, talvez nenhum, nem os amigos sabem ao certo como funciona essa conta. Perceberá (porque nessa altura já repara em tudo que não reparava nela antes) que ela mudou um pouco o estilo, ficou melhor ainda, incrivelmente melhor. 

Outro mistério: não basta voltarem; elas voltam melhores. A ciência diz que isso é o tal hormônio da felicidade, que deixa a gente bonito, sabe? Mas não sei, cara, acontece unicamente com as mulheres. E você vai ver que ela fica cada vez mais linda, linda e linda… E, meu Deus, como perdeu essa mulher? Ninguém sabe. Você não deve ser o único na lista; babacas se multiplicam na vida feminina. E a verdade é que toda feliz ela voltará mesmo. Rapaz, ela vai voltar com aquele sorriso de quem é dona do mundo sem nem imaginar, pois elas nunca imaginam. 

Você, todo louco de amor, todo arrependido por anos atrás, cheio de saudade, anos de academia depois, anos de história depois, vai seguir achando que ela guarda no peito aquela mágoa de quando pegou você com a loirinha do cursinho. Pior ainda: você terá certeza absoluta de que tudo que ela quer ouvir é um pedido de desculpas para voltar aos seus fortes braços outra vez. E aí, meu rapaz, é só partir para o abraço, fazer a festa, comprar o anel e segue o baile! Mas esse é outro mistério que ninguém explica: como elas conseguem sem mais nem menos curar mágoa de homem cafajeste sem nunca ouvir um pedido de desculpas. E por isso ela voltará, mas nunca, nunquinha para você. Para outros cafajestes, certamente, mas não para a figurinha repetida. Porque esse é o último segredo que conto: elas sofrem com a rotina tediosa.
Se não fosse tão inquieta, dizem que eu poderia ser mais intelectual. Se não fosse tão calada, dizem que eu poderia ter mais amigos. Se não fosse tão despreocupada, dizem que eu poderia ter mais oportunidades. E eu poderia, confesso, ser diferente, ser melhor, ser a intelectual sem óculos ou o prodígio da família. Essas coisas acontecem, somos bons, se quisermos ser. Mas me escolhi, acima de tudo, acima dos “se você fosse”, e se escolher é sempre o caminho mais difícil. É sempre a briga mais acirrada com o mundo