domingo, 22 de abril de 2012

Das conversas que deveriamos ter tido

  • "E de verdade? Quando você precisa de alguém e esse alguém se afasta, quando você sem querer (mesmo, é o mundo conspirando contra) o vê na rua você sente vontade de... sei lá, sair correndo. Mas também sente vontade de ficar lá só pra poder olhar mais um pouquinho; Isso é uma merda. Merda, bosta, porcaria, besteira, todas essas coisas ruins e feias de se falarem quando se trata da vida. Aí tu acha um banco, senta lá, e fica olhando que nem uma idiota como se tivesse perdido alguma coisa (e eu perdi sim, cara, perdi a vergonha na cara, a dignidade, o amor próprio e deixei o coitado virar saudade). Saudade, vontade, coisinha que já passou e eu queria que não tivesse ido tão rápido assim. Foi rápido, né? Sempre vai ser rápido, nem que dure uma eternidade. E pra f*d*r mais um pouco com tudo você volta sorrindo pra casa com sua mente de ponta-cabeça e suas tripas em nó. Só que esse pedaço de dia não muda nada no resto da tua vida, então é uma coisa meio idiota se deixar levar por coisa pouca. Mesmo porque, a saudade vai continuar sendo maior que tudo. Enfim, depois de umas semanas, você chega em casa de um passeio qualquer, olha pro sofá, ele olha pra você. Você deita, se esparrama, arranca as meias e liga o ventilador. Tira o celular do bolso, procura a criatura nos contatos (como se você ainda não soubesse o número de cor) e resolve digitar uma sms no meio desse nada todo que vocês tem agora.
  • Você: Te vi aquela sexta.
  • Idiota: É, eu te vi também.
  • Você: Não acredito.
  • Idiota: É sério.. Você tava com aquela blusa cheia de florzinhas que eu sempre disse que te fazia parecer um anjinho, embora nunca tenha sido nem um degrau perto disso.
  • Você: Não, não, não. Não é disso que eu tô falando. Você resolveu me responder.
  • Idiota: Ué, eu só te vi também.
  • Você: E eu só queria te avisar que eu tinha te visto.
  • Idiota: Hum...
  • Você: Isso não muda nada, certo? Você só tem que confessar que tava com saudade de mim.
  • Idiota: Nem começa.
  • Você: Já comecei.
  • Idiota: Então termina.
  • Você: Me fala.
  • Idiota: Não falo.
  • Você: Então tá, eu falo.
  • Idiota: Fala o que?
  • Você: Que pra mim mudou muita coisa.
  • Idiota: Tipo?
  • Você: Tipo todas as outras sexta do meu mês. Eu quis te ver em todas elas.
  • Idiota: Mas não viu.
  • Você: Não, não vi.
  • Idiota: E foi melhor assim.
  • Você: Foi melhor assim.
  • Idiota: Para de repetir o que eu falo.
  • Você: E você quer que eu diga o quê?
  • Idiota: Não sei.
  • Você: Então tchau.
  • Idiota: Vai desligar?
  • Você: Vou.
  • Idiota: Então desliga.
  • Você: Tô desligando.
  • E aí fica um silêncio enorme porque a saudade não te deixa desligar por não saber quando vai ter aquela voz só pra você outra vez. Então a gente deixa a linha lá, deixa o tempo rolar, deixa os créditos irem para o beleléu, não importa mais nada. Nem que seja só por uns míseros 3 minutos de silêncio.
  • Idiota: Eu sinto saudade, mas isso também não muda nada.
  • Ele desliga, e você fica brava por ele ter desligado, não por ele ter dito que não muda nada. E sabe por quê? Porque não importa se muda ou não, importa que você ainda tá lá dentro dele. Agora você já pode seguir em frente, ele não seguiu.
  • Fim da ligação. Fim da sexta retrasada. Fim do pote de sorvete de chocolate. Fim da sua necessidade compulsiva de procurar alguma coisa que te deixe pra baixo outra vez."

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