domingo, 20 de maio de 2012

Das cartas


Lucas,
Parei de te escrever porque parei de querer saber de mim. Parei de me escrever porque tô cansada de ver minha mil faces em espelhos e entrelinhas. O que posso lhe dizer é que a vida segue do mesmo jeito que sempre seguiu. Com menos tempo, menos fé, menos levezas, menos expectativas mas ninguém disse que seria fácil né?
Lembra que eu vivia interessada  em porquês, em motivos freudianos, em explicação escatológicas e cosmogonias baratas e o quanto você ria de todas as minhas dúvidas e meus solilóquios Hamletianos? Ando acompanhando  Lispector no "viver ultrapassa o entendimento" e desisto das filosofias questionativas e me concentro em um não-sei-o-que. Mas se você me perguntar no que estou interessada além de Shakespeare e literalidades talvez eu não saiba dizer. Em sentir, talvez. O que? Qualquer coisa. Menos arrependimento, culpa cristã, aquela coisa toda,  coisa que agora sempre dispenso.
Sinto sua falta. Sinto falta das tuas cartas, do teu riso contido, dos teus olhos azuis cor de noite das nossas viagens com os pés no chão e das ainda não marcadas. Sinto falta de Liliput e das estradas de Santos. Se fossemos norte-americanos fugiríamos para o México, mas sendo brasileiros temos o mundo. Pra onde iremos?
Não assusta você as estrelas mortas que apreciamos? Os limites e regras ridículas que inventamos? A gente se poda e ainda acha necessário. A gente legitima o pouco, porque o muito assusta. Mas eu quero mais, eu sempre quis mais, sabes que nunca estou satisfeita.
O amor é nossa invenção mais bonita… Mas a gente sempre enfeita, e o problema é que devanear o outro enfeia o sentimento. Minha mãe  agora deu pra querer me convencer de que casamentos luxuosos são incríveis, mas ela sabe que  odeio a instituição do casamento. Não esconde o desapontamento quando eu digo que não quero. E penso se casar não se reduz somente a uma resposta a exigências sociais. Porque ser feliz não é opção, é a ordem. E nada melhor que exibir isso num vestido branco caríssimo que nunca mais será usado.
O sono me faz perder o raciocínio, desculpa. Eu sinto sua falta, era só isso que queria dizer. Não te procuro por medo de mim, e acho que você me entende quando te digo isso. Te amo, tu sabes. Mesmo sem saber o que é o amor… e sem querer saber.
Te cuida… ou tenta. Até.
Camila A.

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