terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Invólucros


Aviso importante
O uso excessivo do telefone celular frita o seu cérebro como
uma fornalha. Não é verdade mas espalha, espalha.

Telefones celulares, agendas eletrônicas e computadores portáteis
cada vez mais compactos, e portanto com teclas cada vez menores,
pressupõem usuários com dedos finos. Se vale a teoria da
seleção natural de Darwin, as pessoas com dedos grossos se tornarão
obsoletas, não se adaptarão ao mundo da microtecnologia e logo
desaparecerão. E os dedos finos dominarão a Terra. Há quem diga
que, como os mini-teclados impossibilitam a datilografia tradicional
e, com o advento das calculadoras, os cinco dedos em cada mão
perderam a sua outra utilidade prática, que era ajudar a contar
até dez, os humanos do futuro nascerão só com três dedos em cada
mão: o indicador para digitar (e para indicar, claro), o dedão opositor
para poder segurar as coisas e o mindinho para limpar o
ouvido.
Outra inevitável evolução humana será a pessoa já nascer com
um dispositivo — talvez um dente adicional, cuneiforme, na frente
— para desembrulhar CDs e outras coisas envoltas em celofane, como
quase tudo hoje em dia. E fiquei pensando no enorme aperfeiçoamento
que seria se as próprias pessoas viessem envoltas numa espécie
de celofane em vez de pele. Imagine as vantagens que isto traria.
No lugar de derme e epiderme, uma pele transparente que permitisse
enxergar todos os nossos órgãos internos, tornando dispensáveis os
raios X e outras formas de nos ver por dentro. Bastaria o paciente
tirar a roupa para o médico olhar através da sua pele e dar o diagnóstico,
sem precisar apalpar ou pedir exames.
Está certo, seríamos horrorosos. Em compensação, a pele transparente
seria um grande equalizador social. "Beleza interior" adquiriria
um novo sentido e ninguém seria muito mais bonito que
ninguém, embora alguns pudessem ostentar um baço mais bem-acabado
ou um intestino delgado mais estético, e o corpo de mulheres com
pouca roupa ainda continuasse a receber elogios ("Que vesícula!").
Acabaria a inveja que as mulheres têm, uma da pele das outras, e a
conseqüente necessidade de peelings, liftings, botox etc. E como
todas as peles teriam a mesma cor — cor nenhuma —, estaria provado
que somos todos iguais sob os nossos invólucros, e não existiria
racismo.
Fica a sugestão, para quando nos redesenharem.

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