terça-feira, 30 de abril de 2013

Das pressões



“Esse menina vai brilhar na faculdade”. Escutava isso semanalmente, a cada dez alcançado, a cada pequena conquista, a cada dia. Estava cansada. O fardo era pesado, a expectativa alta e a vontade de sustentá-la diminuía a cada pensamento sincero que precisava deixar de canto para suprir o mar de vontade dos outros.
Dessa vez, não havia estudado. Há tempos não prestava atenção na aula. Nunca havia sentido essa sensação de não saber nada, de não desconfiar do conteúdo que seria cobrado. Como não sabia nada de nada, não precisava calcular quanto tempo tem para cada questão. Isso era libertador.
Nem tentou. O fracasso irremediável era doce. Ficou uns 10 minutos degustando a delícia de não ter expectativas. Dessa vez, não ficaria ansiosa pela nota. Não cobraria o professor. Nem ao menos participaria do insuportável grupo que discute as questões da prova no maldito recreio. Assinou seu nome na lista de presença e foi para casa.
— Como foi a prova, filha?
— Uma delícia, mãe, um tesão.
Largou a mãe na sala, com semblante de interrogação.
“!?”
Era a primeira vez que ignorava uma regra, que contrariava o mundo e cagava em cima de uma regra. Sorriu com o canto da boca. Subiu as escadas de alma lavada.


Nenhum comentário: