quarta-feira, 17 de abril de 2013

Das cartas

Ramona,

Não há nada de novo por aqui. te escrevo só pra lembrar que não há nada de novo por aqui. Ontem vi um homem ser preso por roubar leite em pó, e ainda não acredito realmente nisso. Homofóbicos ainda respiram e se sentem no direito de odiar deliberadamente. de-li-be-ra-da-men-te, pausadamente, pra expressar a paciência que tem me deixado longe da cadeia por não ter matado um deles.Você deve estar rindo agora, sempre diz que não sou capaz de matar uma formiga. Você sabe que é difícil pra mim, você sabe. Mas o mundo continua injusto pra caramba e minha existência, ou a sua, não mudou nada disso, e não sei se vai mudar. Você me diz pra não deixar o ceticismo me engolir, mas é difícil acreditar… vou acabar repetindo esse discurso covarde de que as coisas tem que ser assim, e não quero, você sabe que não.
Acho que sinto sua falta, acho que a cidade ficou mais cinza que o normal sem seu cabelo vermelho voando por aí, acho que você devia voltar. Talvez eu até precise de você e de sua esperança inabalável, talvez.

P.S: sinto muita falta das crianças e seus sorrisos e carinhos sem fim

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