quinta-feira, 30 de maio de 2013

 
 Eu não posso fugir do que é meu. Contento-me, pois, com o que o universo me dá, essa esperança boba de ser inocente de novo, esse nunca mais voltar, destruindo muros que nem sequer chegaram a existir, existindo de mentira, num fechar dos olhos profundamente breu da noite escura, pois não necessariamente todas as noites são escuras, mas os muros existem somente no breu, no âmago do pensamento mal arquitetado, na costura mal feita da minha camisa de dez reais. Eu tenho uma camisa de dez reais. Eu tenho uma cama desarrumada. Eu tenho um espelho quebrado. Eu tenho um clichê todo dentro do armário. Tenho também um gato que dorme comigo e deixa meu cobertor coberto de pelos. O abajur do meu quarto está todo empoeirado. Coleciono copos e sofro por causa disso, há quatro copos em cima do criado-mudo, mas não tão mudo quanto eu, que já não sei mais falar de amor.

- Giovanna Zambianchi

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