sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

 
 
 
Quando a chuva veio… ah, quando a chuva veio eu quis contar as gotas que molhavam, as nuvens que caíam, os passos corridos que os transeuntes davam! Quando a chuva veio a alma quis lavar, gritar, sacudir o corpo inteiro. Quando a chuva veio isso parecia um sertão há 365 dias sem ver água, e não digo um ano, não: são 365 dias para sentir a secura de cada um, na saudade, na sobriedade, na raça e no peito. Parecia o feto apressado querendo conhecer o mundo, ninguém esperaria mais um segundo para abrir as portas e lavar a alma. Sabe-se lá que sujeira a vida fez, porque às vezes jogar sujo não é somente com as cartas em mãos. Quando choveu, aquela gente toda correu em desespero, uns queriam fugir, outros queriam encontrar. Eu era a estátura que na chuva só enferrujava, e mesmo assim corri. As nuvens não sabiam se riam ou se choravam. Nem eu sabia mais o que era riso e o que era choro. Felicidade e tristeza são vizinhas, vira a esquina é uma, vira de novo e é outra. Amigo, não tem placa de rua que salve esse encontro, essa mistura. Essa é a minha rua. E aqui a chuva se some por dias. A alma se contorce, o chuveiro mais próximo não serve. Não, eu não quero um pano molhado. Estou como está o sertão. Ele seca, todo o povo chora e o céu ignora. E é por isso, unicamente por isso, que quando a chuva veio, eu fui.

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