sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vestibular!!!


Que eu sou loucamente apaixonada pelos textos do verissimo nao É nenhuma novidade,mas esse texto aqui exprime o que vivo neste momento
O flagelo do vestibular
Não tenho curso superior. O que eu sei foi a vida que me ensinou,
e como eu não prestava muita atenção e faltava muito, aprendi
pouco. Sei o essencial, que é amarrar os sapatos, algumas tabuadas
e como distinguir um bom beaujolais pelo rótulo. E tenho um certo
jeito — como comprova este exemplo — para usar frases entre travessões,
o que me garante o sustento. No caso de alguma dúvida
maior, recorro ao bom senso. Que sempre me responde da mesma maneira:
"Olha na enciclopédia, pô!"
Este naco de autobiografia é apenas para dizer que nunca tive
que passar pelo martírio de um vestibular. É uma experiência que
jamais vou ter, como a dor do parto. Mas isto não impede que todos
os anos, por esta época, eu sofra com o padecimento de amigos que
se submetem a terrível prova, ou até de estranhos que vejo pelos
jornais chegando um minuto atrasados, tendo insolações e tonturas,
roendo metade do lápis durante o exame e no fim olhando para o infinito
com aquele ar de sobrevivente da Marcha da Morte de Batan.
Enfim, os flagelados do unificado. Só lhes posso oferecer a minha
simpatia. Como ofereci a uma conhecida nossa que este ano esteve
no inferno.
— Calma, calma. Você pode parar de roer as unhas. O pior já
passou.
— Não consigo. Vou levar duas semanas para me acalmar.
– Bom, então roa as suas próprias unhas. Essas são as minhas...
– Ah, desculpe. Foi terrível. A incerteza, as noites sem sono.
Eu estava de um jeito que calmante me excitava. E quando conseguia
dormir, sonhava com múltiplas escolhas: a) fracasso, b) vexame, c)
desilusão. E acordava gritando: Nenhuma destas! Nenhuma destas!
Foi horrível.
– Só não compreendo por que você inventou de fazer vestibular
a esta altura da vida...
– Mas quem é que fez vestibular? Foi meu filho! E o cretino
está na praia enquanto eu fico aqui, à beira do colapso.
Mãe de vestibulando. Os casos mais dolorosos. O inconsciente
do filho às vezes nem tá, diz pra coroa que cravou coluna do meio
em tudo e está matematicamente garantido. E ela ali, desdobrando
fila por fila o gabarito. Não haveria um jeito mais humano de fazer
a seleção para as universidades? Por exemplo, largar todos os
candidatos no ponto mais remoto da floresta amazônica e os que
voltassem à civilização estariam automaticamente classificados?
Afinal, o Brasil precisa de desbravadores. E as mães dos reprovados,
quando indagadas sobre a sorte dos seus filhos, poderiam enxugar
uma lágrima e dizer com altivez:
– Ele foi um dos que não voltaram...
Em vez de:
– É um burro!
Os candidatos à Engenharia no Rio de Janeiro poderiam ser postos
a trabalhar no metrô dia e noite; quem pedisse água seria desclassificado.
O Estado acabaria com poucos engenheiros novos — aliás,
uma segurança para a população —, mas as obras do metrô progrediriam
como nunca. Na direção errada, mas que diabo.
O certo é que do jeito que está não pode continuar. E ainda
por cima há os cursinhos pré-vestibulares. Em São Paulo os cursinhos
estão usando helicópteros na guerra pela preferência dos vestibulandos
que terão que repetir tudo no ano que vem. Daí para o
napalm, o bombardeio estratégico, o desembarque anfíbio e, pior,
uma visita do Kissinger para negociar a paz, é um pulo. Em São
Paulo há cursinhos tão grandes que o professor, para se comunicar
com as filas de trás, tem que usar o correio. Se todos os alunos
de cursinhos no centro de São Paulo saíssem para a rua ao mesmo
tempo, ia ter gente caindo no mar em Santos. O vestibular virou
indústria. E os robôs que saem das usinas pré-vestibulares só têm
dois movimentos: marcar cruzinha e rezar.
O filho da nossa nervosa amiga chegou em casa meio pessimista
com uma das suas provas.
— Sei não. Acho que entrei pelo cano. O Inglês não estava
mole.
– Mas meu filho, hoje não era inglês! Era física e matemática!
– Oba! Então acho que fui bem.

Um comentário:

Bill Falcão disse...

Veríssimo é de rolar de rir, Mila!!!
Um gênio, um mestre!
Bjoooooooooo!!!!!!!!!!