quarta-feira, 27 de março de 2013


— Meu nome é Hazel. O Augustus Waters foi o grande amor estrela-cruzada da minha vida. Nossa história de amor foi épica, e não serei capaz de falar mais de uma frase sobre isso sem me afogar numa poça de lágrimas. O Gus sabia. O Gus sabe. Não vou falar da nossa história de amor pra vocês porque, como todas as histórias de amor de verdade, ela vai morrer com a gente, como deve ser. Eu tinha a expectativa de que ele é quem estaria fazendo meu elogio fúnebre, porque não há ninguém que eu quisesse tanto que…— Comecei a chorar. — Tá, como não chorar. Como é que eu…Tá.
Respirei fundo algumas vezes e retomei a leitura.
— Não posso falar da nossa história de amor, então vou falar de matemática. Não sou formada em matemática, mas sei se uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros. Um escritor de quem costumávamos gostar nos ensinou isso. Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Queria mais números do que provavelmente vou ter, e, por Deus, queria mais números para o Augustus Waters do que os que ele teve. Mas Gus, meu amor, você não imagina o tamanho da minha gratidão pelo nosso pequeno infinito. Eu não o trocaria por nada nesse mundo. Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados, e sou muito grata por isso.

A Culpa é das Estrelas 
by John Green

Eu tô bem, sei lá, devo estar.


"I don't know how to feel about it"



A música fala sobre ir embora (eu só escrevo sobre isso, desculpe) e eu penso que ir é uma maneira poética de presentear alguém com a palavra, com o choro à noite, com a ferida que não cicatrizou.

Porque todo mundo uma hora vai embora. Porque você insiste em ir embora. Eu insisto em não querer que você vá. Eu insisto em voltar, quando não há mais volta. Insisto em tentar o já há muito se foi.

(a música me faz chorar… ela conta sobre mim, ela canta sobre nós)

Dos clichês



Meu sacrifício é te ver com outro mas te ver, acima de tudo, feliz. Eu aqui, na minha solidão pós-você, e você aí, na felicidade pós-eu. É tudo tão triste e irônico. É tudo tão normal e tão frustrante.
(não importa, se você está bem, eu também ficarei)

terça-feira, 26 de março de 2013

Das Cartas


E eu notei que eu realmente gosto de você, começou comigo te emprestando um lápis, depois um guarda-chuva, um filme e um certo livro. Sabes que emprestar livros não é comigo. Morro de ciúmes dos meus livros. Porque eles carregam partes importantissímas de mim. E é interessante como não me doí dividir minhas verdades, as que estão dentro dos livros, com você. É bom saber que apesar das minhas renúncias e loucuras alguém quer participar dessa minha vida banal e desses meus poemas legaiszinhos.
Ele senta no sofá. Alguma desculpa ou distração me é dada para que me retire do recinto e deixe somente os dois. Ele nervoso só sorri amarelo. Os cabelos brancos, a barba, o olhar severo e o amor imenso que ele sabe que sinto por quem está na sua frente faz todas as membranas das celulas dele fazerem movimentos desesperados. Ele nao consegue pensar em nada inteligente e engraçado para dizer. Abaixa a cabeça e suspira, rezando pra que eu volte logo.

Um pigarro. Ele olha pra cima assustado. Os olhos saltando da orbita.

— Você ama a minha filha?
— Amo muito, senhor.
— Ah, que bom. Porque é disso que você terá que se lembrar nos dias ruins. Quando você sentir ciumes, quando ela calar e quando ela gritar, quando ela nao aguentar mais.- Uma pausa para um olhar inquisidor e uma gota de suor se formando na testa larga dele
Filho, você ama o corpo, a fama, o status, o fato dela se doar ou o que?
— A amo como um todo, senhor. 
— Hum. Você a ama agora, filho.Vai continuar amando quando ela mudar? Porque se você conhece ao menos um pouco minha menina, você sabe que ela é como um camaleao e que é adepta a grandes transformações.
—Senhor, sinceramente, eu nao sei por quanto tempo posso ama-la, nao posso prever o futuro mas enquanto meu amor por ela durar eu vou me doar por inteiro a esse amor.
—Hum, interessante, filho. Parece que ela te catequizou. Ela te transformou nao foi? Minha menina é maravilhosa. Lembro da primeira vez que vieste aqui; um menino fraco, franzino, que falava coisas bobas e deixava-se transparecer.
—Aprendi muitas coisas com ela, senhor.
—Sim,sim. Claro que aprendeu. E sei que de alguma forma ela deve ter aprendido alguma coisa. Essa menina tem mania de procurar ensinamento em tudo. O que acho patetico mas muito bonito.
—Verdade. Pra mim isso é o que a torna tão incrivel. Essa sabedoria que ela emana, sem nem perceber.
—Pensei que isso te frustrasse, filho. Me frustraria com toda certeza.
—Por que , senhor?
—Por que ela é muito maior do que eu, muito melhor. E ainda nao consegui lidar com essa ideia de feminismo, como um todo sabe? Mas não conte isso pra ela.
—Claro, senhor.
—Mas filho você vai saber lhe dar com ela distribuindo amor por onde passa?
—Não sei senhor.- ele gaguejou
—Então também não sabe se vai aguentar ver esse amor sendo retribuido, não é mesmo?
Ele balança a cabeça em afirmação            
—Te adimiro por tentar, filho.
—Obrigado, senhor.
—Mas me diz uma coisa, você realmente entende tudo o que ela fala?
“Minha mãe acha que é um traço falho do meu caráter, os amigos definem como fraqueza, a comunidade psíquica vê isso que eu tenho como uma espécie de colecionismo afetivo, uma doença. Gosto de chamar de Síndrome de Dom Quixote. Uma espécie de bloqueio que me impede de qualquer ascensão pessoal e profissional. Por mais que eu trabalhe, por mais que eu me ache bom no que faço, e por mais que as pessoas endossem isso, há sempre uma voz em mim. E não é humildade. É um trauma, dos grandes.”

Não me importo que você me ache ingênua, romântica demais, boba, cafona ou careta. Talvez eu seja mesmo tudo isso. E muito mais. Mas pelo menos eu não tenho vergonha na cara e no peito de me abrir, de sentir.
As pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos, ou a menina abraça o seu melhor amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem.
 


You may have my number
You can take my name
but you will never have my heart

sábado, 23 de março de 2013

Das ligações que deveria ter feito

_ 6 vezes. Me disseram isso 6 vezes nessa semana.
_ ‘Aceita o convite dele, ele é rico’?
_ Sim. É ridículo. Ninguém mais tem vergonha de não ter vergonha na cara.
(gargalhada)
_ Repete isso. Vai.
_ Ah, pra puta que pariu você também.
_ Nunca, nem numas dez vidas, te imaginei dizendo isso.
_ Vamos nos focar no nosso problema aqui, por favor?
Do outro lado do telefone, um dique,  um sorriso se acendendo.
-Tem uns bacanas querendo te comer, e você considera isso um problema. Acho que vou te recomendar um terapeuta.
_ ‘Até tu, Brutus?’
(risos)
_ O que você quer? Fala pra mim. Qual mendigo de qual viaduto é bom o suficiente pra você?
Esperei um pouco, olhei pra janela.
_ Vai começar a chover.
_ Sei.
_ Você sabe…
_ Eu sei que tô na pior, mas calma aí. Deve ter alguém com menos dinheiro que eu por aí… alguém que deva a alma, não sei.
Risos, nossos.
_ Quando você vem, filho da mãe?
_ Quando você disser pra eu ir.
_ Só dizer?
_ Aham.
_ Então vem.
_ ‘Môzão, do pau grande, tô com saudades de você, vem cá, preciso de você.’ Diz assim.
Eu ri, meu celular tocou.
_ Aham, digo. Calma aí, vou dar uma passada na Doca antes, tão me chamando.
_ Filha da puta, me convenceu. Pego o próximo ônibus.
_ Môzão?
Ele ria, eu não ouvia mas sabia.
_ Diz.
_ Não traz guarda-chuva não.

quinta-feira, 21 de março de 2013

"Maktub; (Particípio passado do verbo Kitab) É a expressão característica do fatalismo muçulmano. Maktub significa: “estava escrito”; ou melhor, “tinha que acontecer”. Essa expressiva palavra dita nos momentos de dor ou angustia, não é um brado de revolta contra o destino, mas sim, a reafirmação do espírito plenamente resignado diante dos desígnios da vida."
— Vida Longa, Mundo Pequeno - Oriente
"Vocês são lindas? Pois saibam que eu sou bonitinha e tenho cinco livros publicados, quatro roteiros em aprovação e um shortlist no Festival de Cannes. Ah, e eu sei fazer um homem rir e não é da minha cara."

Tati Bernardi

como faz? por favor, tentei desatar… apertou, apertou.


Ninguém entende os nós de nós
E, de repente…
Enjoei do personagem, não gostei do figurino, cansei do cenário, impliquei com a performance e detestei o texto…
Então, abandonei o palco e o deixei ali: ator-doado em cena.
Dei a mão pra outro moço e fui viver, finalmente, um amor de cinema.

Clarice Lispector 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Dos desabafos

Você publica que tá com saudades dele: vem o cara do teu primeiro selinho, a paixonite de 10 anos de idade, ex namorado saindo de sabe Deus onde, amigo de ex namorado caindo em cima do teu telhado, desconhecidos, fulano, ciclano...

É só dar sinal que está gostando de alguém que começam a querer interromper provavéis romances

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ele não é você

Eu provavelmente poderia gostar dele, se nunca tivesse conhecido você. Essa é a minha maldição, para o bem ou para o mal: eu te conheci. E eu até poderia estar feliz agora, não fossem os nossos desencontros.

Meus amigos resolveram dizer que ele "vive falando de mim". Minhas amigas acham "bonitinho" quando ele fica tímido passando por mim no meio daquelas pessoas todas que também passam por nós. E dizem, eles e elas, que "ele tem medo de eu ter alguém". Pelo visto ele já me conhece o bastante e eu nem sei. Não que eu tenha alguém, mas alguém me tem. Será que ele me perdoa?

Ele é inteligente, o que me surpreende: homens dificilmente são inteligente no primeiro contato - nada pessoal - como ele foi. A inteligência não sobe à cabeça e nem o faz menos deslocado, pelo contrário, não é nenhum intelectual isolado da sociedade, já percebi que é comunicativo na hora certa e tem um bom gosto musical. Sem contar que as aparências podem até enganar, mas tem aquela típica carinha de bom moço. Eu diria que falta apenas saber se dança. Ele é dos bons, daqueles que minha mãe aprovaria de longe, e claro que deve ter lá os seus defeitos, eu que ainda não tive interesse o bastante para descobrir. Talvez cheguemos lá.

E o que um parágrafo inteiro sobre ele me faz pensar? Que ele não é você. E, convenhamos, qual a graça, se não for você? Ainda não encontrei. Com ele é mais fácil? Olha, é você quem quer tudo mais fácil; eu sempre preferi as nossas dificuldades. Posso até te imaginar agora balançando a cabeça e concluindo que é melhor assim, que eu goste logo dele, fique bem e vamos adiante!

Acredita mesmo que ele me olha como você? Esse teatro não é meu; essa farsa não é minha. O meu coração pode ser fraco, mas nunca mentiroso. Não almejo felicidade falsa entrando pela minha porta, nem quero o caminho mais fácil pelo medo do difícil. E não é porque é "recente". É porque meu amor é confuso, torto, desastrado e incoerente, mas não se engana.

Acabo por me distrair pensando que eu deveria aprender a gostar dele, mas essa coisa de "aprender a gostar" me parece tão armada, tão diferente de você invadindo meu mundo sem me deixar opções de voltar atrás. Eu gosto é do nosso atropelo, mesmo que agora você seja a parte em branco do meu dia e que o seu silêncio tenha me tirado a noite e vá tirar mais uma e outras tantas. Eu quero mesmo é o nosso jeito estranho de ser sem saber como se ama, mas amando.

Ele seria o conto de fadas, quem sabe? Aquele conto de fadas que você insiste em falar. E, veja só, eu não quero. Não me diga para "fazer força até querer". Não atropele meu coração. E se você fosse um pouco mais você de verdade, nosso desencontro finalmente se encontraria, e dessa vez para não se perder mais.

Eu até poderia gostar dele, mas... ah, ele não é você.
Não quero perder a mania de ter que ser você.

Toda vez que ele passar por mim sorrindo como hoje, eu vou saber: ele não é você.
 
Camila Costa